Crónica de um Setembro anunciado

Hoje, quando acordei, chovia. Estranho chover no dia 15 de Agosto. Lá anda o anticiclone a fazer das suas...
Arrasto-me da cama para o sofá e dormito mais uma hora. E quando acordo vem o pensamento atroz - SETEMBRO.
Por esta altura do mês de Agosto todas as partes do meu ser se começam a mexer como por vontade própria, ando trémula e o meu pensamento é ansioso. Nunca sei bem o que há-de ser a minha vida em Setembro. Setembro à porta, outra vez.
O telemóvel começa a tocar. Uma das minhas "pseudo-patroas". Cinco minutos depois liga a outra. Oh Deus. Não me posso mesmo esquecer que Setembro está aí, mesmo à porta.

Ontem estive a ver nas notícias que a fortuna do tio Belmirinho duplicou no ano passado. Estive a ver as coisinhas que o senhor pode ter com a fortunazinha dele. E pus-me a pensar: chiça... O senhor nunca vai ficar angustiado a meio de Agosto, sem saber muito bem o que vai ser a vida dele em Setembro. Setembro para ele significa Modelo e Continente à pinha para comprar os belos dos materiais escolares. Ou se calhar nem isso, porque isso pra ele devem ser trocos... O senhor Belmiro não tem de fazer contas para esticar o dinheiro até ao próximo recibo verde. Provavelmente o senhor Belmiro aprova o sistema degradante dos recibos verdes, que tanto jeito dá aos patrões. Os empregados a recibo verde são do género pastilha elástica - usa, mastiga, deita fora.
Estou ansiosa - quase triste. Estou a ficar um pouco farta deste jogo que me obrigam a jogar. Um jogo em que tanto podemos fazer a aposta da nossa vida, como deitar tudo a perder. Façam as vossas apostas... O próximo Setembro é já para o ano.