Crónica da Fita Métrica

Hoje andei uma vez mais pelas lojas em busca de uma fatiota jeitosa para levar ao casamento da Sofia. Mais uma vez bati todas as lojas de roupa fina, de roupa mais ou menos chique, e de roupa assim assim a atirar para a cerimónia. Resultado: suor, lágrimas e só não houve sangue porque eu, no fundo, já estou habituada a estas andanças. Ah! E nada de fatiota...

Pois é, a fita métrica não é minha amiga. Quis a genética que eu fosse uma mulher cheinha (forte, gorda, badocha... como quiserem!) mas, com a graça de Deus, muito saudável. Visto o 46 (ou 42, ou 44, ou 48... depende!!!), tenho para lá dos 80 kg e 1,70m. Sim, eu sei que não é o corpo, peso e medidas ideais. Mas eu sou assim. Tenho 27 anos e visto o 46.

Os adoradores da fita métrica não gostam das pessoas que vestem o 46. Não podem gostar, pois se gostassem eu encontraria nas redondezas um trapinho de pronto a vestir que me servisse. Quer dizer... encontrar até encontro... Mas são roupinhas tão bonitas que nem a minha mãe do alto dos seus (lindíssimos!) 51 anos e atreveria a vestir.

Posto isto, ponho-me a reflectir... Ultimamente têm surgido tantas polémicas em torno da obesidade, bulimia, anorexia... E chego à conclusão que vivo numa cidade (e provavelmente num país) que escraviza as pessoas à fita métrica. Basta ligar a televisão, abrir uma revista, verificar a caixa do correio... "Perca peso sem esforço!" "Saiba como manter a linha!"

E os desfiles de moda com as suas modelos esqueléticas? E as meninas dos "Morangos" e noveladas afins? E as damas do "jet7"? A palavra de ordem é emagrecer a todo o custo e sem olhar às consequências...

Tenho consciência dos perigos do excesso de peso/ obesidade. No entanto, acredito que muitos como eu são assim porque têm um passado genético "pesado e roliço" que é difícil reverter... Que muitos como eu gostam e têm prazer em comer mas que não cometem "pecados alimentares" por sistema... Além disso ser gordo não é um crime e aida não está comtemplado na Constituição Portuguesa que temos de ter menos de 65kg para ter direito a andar bem vestido...
Por isso acho que ninguém tem o direito de humilhar alguém porque não faz parte da "seita" da fita métrica, como eu fui hoje!

Porque é que eu tenho de mandar fazer uma roupa para um casamento por 200€ numa costureira se podia ir à Rulys comprar um trapo jeitoso por 50€? Porque é que num mundo e num país em que se fala tanto que as pessoas estão cada vez mais fortes não se confecciona pronto-a-vestir de acordo com essa realidade? Desde cedo que ouço os lojistas dizer que os números maiores são os primeiros a desaparecer das prateleiras... Porque não se aposta na HUMANIZAÇÃO do vestuário?

Porque é que eu tenho de vir deprimida para casa depois de passar o dia a correr lojas e a ser olhada de soslaio, com esgares de nojo e comentários do tipo "pois, para si não temos..." ou "pois, a menina é assim mas se calhar não faz por ser diferente..."

BASTA! Porque é que tenho de ser eu a converter-me à seita da fita métrica!? Serei eu minoria? Ou serei parte de uma nova maioria que vai, de uma vez por todas, mandar para a fogueira a fita métrica, as dietas parvas, as bulimias, as anorexias, as depressões alimentares, as auto-estimas baixas e as vergonhas de sair à rua só porque em vez do ventre Corpos Danone aparece um redondo Donut???

Graças a Deus alguém começa a pensar diferente... Um vídeo LINDO! Obrigada Dove...


Sejam belos... por dentro!!! Be beautiful...

Comentários

Anónimo disse…
Bem , linda, li tudo com muita atenção e tal e qual como tu também eu tenho problemas em arranjar trapitos com os quais me sinta bem. Como sabes engordei bastante depois do nascimento da filhota e cada vez pior. Mas o que me chateia mesmo é ir às lojas e reparar que não há roupita de jeito para cheínhas. Venho triste e deprimida etc etc! Também eu me sinto mal com estas coisas. Para quem faz a roupa é tudo modelos sem fazer conta que TAMBÉM há pessoas mais cheias... Cada vez que vou compara calças só há até ao 40 e quando perguntamos " olhe desculpe não tem maior?" recebemos aquele olhar do tipo " não sua gorda, só temos até esse número se queres vestir emagrece" mas depois recebemos uma resposta do tipo " não minha senhora os números maiores são os que vão mais depressa",. Pois sim, é que nem sequer chegaram a entrar na loja!!! Sinto-me mal, muito mal. Como tu também vou ter um casamento breve e acreditas que já estou a tremer só de pensar na ronda às lojas?! Não há condições!!!
Sophia disse…
Linda, não é para te chatear, mas para te consolar: para as pessoas magrinhas também não há roupa!!! E eu sei do que falo!!! Felizmente consegui engordar os 5kg desejados e lá vou encontrando (agora sim!) roupa que me fique boa! E sabes porquê? Porque antes só encontrava roupas para gajas com um grande par de buzinas e um belíssimo par de ancas, ou seja, roupas para corpos perfeitos, tipo Barbie. Portanto, não acho que em Portugal se façam roupas para pessoas magras, pelo contrário: FAZEM-SE ROUPAS PARA PESSOAS PERFEITAS, daquelas que põem silicone nas mamas, que passam o dia todo no ginásio a modelar o corpo por não terem de trabalhar para ganhar a vida e daquelas que se podem dar ao luxo de ir para umas termas, para um spa, ou simplesmente à manicure pôr unhas de gel ou extensões por estar aborrecida com o seu visual...

Claro que as pessoas reais não são perfeitas, ou são chamadas de gordas, ou de palitos, têm estrias, celulite, um pelito ou outro na perna, rapam o sovaquinho com gilete por não terem dinheiro para a depilação a laser... Mas não é para essas pessoas reais que se fazem as roupas... Entendo-te muito bem, Caty!!!
Eu nestas coisas sou muito prática e já houve tempos em que me preocupei realmente com a minha suposta gordura a mais... Sim, porque como diz uma amiga minha, só as mulheres é que se acham gordas, e que são mais feias por isso, eu nunca ouvi nenhum homem de mulher gorda a queixar-se, muito pelo contrário... os homens não reclamam... adoram
A verdade é que muitas vezes é um drama comprar roupa (só eu sei o que sofro neste país onde quase todas elas são um pau de virar tripa), mas para mim também é um gozo poder comer o que quero, à hora que quero sem restições de dietas ou seja aquilo que for... a isso sim... chamo Liberdade... liberdade... a única situação em que me preocupo seriamente em realação a este assunto tem a ver com a saúde e com a falta de bem estar da propria pessoa... O resto são preconceitos...
' Claudjinha disse…
ADOREI e concordo com todas as letrinhas e palavrinhas deste teu post (obrigada por teres deixado o link lá no blog).

Tem tudo a ver com aquilo que tratamos por lá e, se concordares, estava interessada em publicar lá este texto, com as devidas referências, claro (nome e link do blog/post).

que dizes? deixa commentário lá pelo nosso estaminé.

e parabéns por pensares assim!

Beijinho

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